Quando se trata dos desfiles de moda de hoje em dia, a internet mudou fundamentalmente o modo como as audiências interagem com os modelos e designers, comentou o OMA/AMO, argumentando que "a montagem de impressões gravadas e reações digitais se insere na outrora autônoma narrativa dos desfiles de moda. O discurso do coletivo se espalha. A massa de dados instantâneos fragmentados é acessada e criticada por muitas vozes."
Em seu mais recente desfile projetado para a Prada, que exibiu a coleção masculina de outono/inverno em Milão, o escritório buscou fortalecer este sentido de julgamento público. "Este consumo de imagens é como um julgamento público, uma transposição contemporânea do Auto-da-fé", explicou o OMA/AMO em seu comunicado de imprensa, referindo-se às cerimônias de renitência pública que aconteceram nas inquisições portuguesas e espanholas entre os séculos XV e XII.
A organização espacial do cenário da Prada apresenta certas similaridades com os relatos contemporâneos das cerimônias do Auto-da-fé, com galerias em torno das passarelas e uma plataforma elevada no centro do espaço. Complementando a metáfora, a rota dos modelos pelo perímetro do ambiente ecoa a procissão dos hereges condenados.
As estrutura são construídas de OSB, uma escolha que, segundo os arquitetos, "contraria a simplicidade das estruturas" já que a iluminação dramática do espaços destaca a textura do material. O projeto se estende para fora do edifício, alcançando o espaço público, e a entrada do desfile é marcada por um portão cerimonial.
"Os convidados se reúnem nos balcões, tribunas e na plataforma central em multidões segundo uma série de hierarquias espaciais", explicou o OMA/AMO. "Não mais observadores, eles se tornam participantes ativos do ritual que se desdobra à sua volta."
Equipe de projeto: Giacomo Ardesio, Ippolito Pestellini Laparelli (Sócio), Giulio Margheri